A sertaneja Vanete Almeida, de 68 anos, é dona de um sorriso invejável e iluminado. Até parece que ela sorri com a alma! A entrevista com a fundadora do Movimento das Trabalhadoras Rurais de Pernambuco aconteceu em uma comunidade chamada Jatiúca, localizada no município de Santa Cruz da Baixa Verde, em Pernambuco. Em um batepapo emocionado, conversamos sobre a conquista da confiança das trabalhadoras rurais, sobre sua vida, saúde, sonhos realizados e projetos para o futuro. Jamais Vanete imaginou que o contato com as agriculturas fosse render frutos tão prósperos. Atualmente, é coordenadora da Rede de Mulheres Rurais da América Latina e Caribe e ainda dirigente do Centro de Educação Comunitária Rural - Cecor.
Vanete Almeida nasceu em Cachoeira, um distrito de Custódia, uma cidade pernambucana. De família modesta, negra e filha de Elísio, um gerente de usina e D. Lígia, dona-de-casa,, estudou até a 5ª série do ensino médio, e mudou-se para Serra Talhada aos sete anos, após o falecimento de seu pai. Sua família passara contar com o sustento do primo Benedito Almeida. "Não tive oportunidade de completar os estudos. Os colégios eram muito caros e tive que trabalhar desde cedo para auxiliar a minha casa", contou Vanete.
Aos 17 anos iniciou sua carreira profissional como secretária em uma escola da cidade e percebendo a dor e a miséria do semelhante inscreveu-se como voluntária em uma paróquia. "Sempre percebia que os velhos da periferia não tinham boas condições de vida e procurei a igreja para ajudar a transformar esta realidade". Nos anos 80 ingressou como assessora na Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco - FETAPE e incomodava-se com a supremacia masculina diante da total ausência de mulheres. "As mulheres não falavam, somente choravam", complementa Vanete Almeida, acrescentando que a conquista da confiança das agricultoras teve uma metodologia especial. "Os encontros eram recheados de poesia, música e ouvir cada relato, totalmente anônimo, para que essas mulheres tivessem voz". Como as reuniões atraíam apenas duas ou três mulheres, Vanete logo encontrou um jeitinho de incentivá-las. Enquanto percorria a pé comunidades rurais da região, usava o rádio como ferramenta de comunicação. Através da locução em A Voz do Trabalhador Rural divulgava as visitas e elogiava as acanhadas participações.
Em 1990, criou uma rede de mulheres muito maior, que ultrapassou as fronteiras do país. Surgia a Rede de Mulheres Rurais da América Latina e do Caribe. Conta atualmente com a participação de milhares de 23 países.
Viajou para a Alemanha, Nicaragua, Africa, Peru, entre outros países. Pontua as semelhanças com as brasileiras. "Elas são isoladas dos centros urbanos, são mulheres e desrespeitadas como seres humanos, integrantes da sociedade". Quando questionada do motivo de continuar morando em Jatiúca, Vanete supreende: "Represento as mulheres agricultoras. Bebo e me alimento da sabedoria delas. É aqui que me renovo. É a minha vida". A sertaneja acrescenta que os sonhos dessas mulheres são simples, como ter queijo e doce de leite na geladeira, por exemplo.
